33 Fundação de Serralves – Relatório e Contas 2023 Além disso, ao programa de exposições associaram-se programas públicos, que propuseram conversas, conferências e leituras que discutiram e ampliaram temáticas propostas pelos artistas apresentados e problemáticas que a direção artística do museu de Serralves considerou incontornáveis para pensar o presente e as suas complexidades. Esta especulação a partir das exposições tem outra tradução na política editorial de Serralves, que em 2023 editou publicações associadas a quase todas as exposições apresentadas. Concebidas, desenvolvidas e desenhadas em próxima colaboração com os artistas, os catálogos, além de documentarem as mostras e servirem a sua memória futura, propõem, através de textos de alguns dos mais esclarecidos intérpretes dos respetivos trabalhos, leituras que iluminam alguns dos seus aspetos porventura menos evidentes. Os livros publicados por Serralves são por isso incontornáveis na bibliografia dos artistas que apresentamos, e dão a conhecer as exposições de Serralves a todos quantos não têm a oportunidade de as visitarem. Em 2023, Serralves apresentou uma grande exposição individual da artista portuguesa Carla Filipe (Vila Nova da Barquinha, Portugal, 1973). O seu trabalho, ao valorizar narrativas que foram escamoteadas pelos discursos oficiais, denuncia as motivações políticas, económicas e sociais que moldam o presente em diferentes geografias, e dialogou exemplarmente com a prática de outros artistas expostos por Serralves em 2023, nomeadamente Allora & Calzadilla (Philadelphia, EUA, 1974; Havana, Cuba, 1971) e Kapwani Kiwanga (Hamilton, Ontário, Canadá, 1978). Os primeiros são uma dupla de artistas que vive e trabalha em San Juan, Porto Rico, cujo trabalho sublinha intersecções entre história, cultura material e política, denunciando relações de poder, problemáticas ecológicas e injustiças históricas. O museu apresentou ainda o trabalho de Kapwani Kiwanga, uma das artistas mais destacadas da sua geração. A artista expõe no seu trabalho o impacto das assimetrias de poder ao longo da história, fazendo dialogar narrativas históricas e realidades contemporâneas. Afrofuturismo, histórias marginalizadas, lutas anticoloniais, sistemas de crença, museologia e cultura vernácula e popular são algumas das áreas que inspiram a sua prática. O artista americano Alexander Calder (Lawton, Filadélfia, 1898 - Nova Iorque, 1976) foi apresentado no Parque e na Casa e de Serralves. Considerado um dos escultores mais influentes do século XX, algumas das suas mais icónicas obras interpelaram a perceção de todos quantos com elas se cruzaram no cenário ímpar do Parque e da Casa de Serralves. De regresso ao Museu, destacamos a apresentação da grande exposição pensada por Dan Graham (Urbana, Illinois, EUA, 1942 – Nova Iorque, 2022), um dos artistas mais destacados do nosso tempo. Conhecido pelos seus textos dedicados à cultura popular e erudita (música rock, arte minimalista e conceptual, arquitetura), os seus escritos estiveram na origem de uma mostra que reuniu o trabalho de oito arquitetos que Graham considerava particularmente significativos. Encomendada e produzida pelo Museu de Serralves, a exposição foi uma oportunidade única para ver e perceber a arquitetura moderna e contemporânea através dos olhos e da mente de um artista que sempre nos ensinou a experienciar a arquitetura de formas surpreendentes. Ainda no Museu, organizámos uma exposição individual do artista português André Romão (Lisboa, 1984) – um dos nomes mais destacados da sua geração – e apresentou-se pela primeira vez em Portugal uma grande exposição de Dayanita Singh (Índia, 1961), uma artista que revolucionou as formas de fazer e dar a ver fotografia. Assumindo-se como uma “fazedora de livros que trabalha com fotografia”, a exposição apresentou os seus últimos trabalhos, que podem descrever-se como fotografias montadas em estruturas museológicas móveis, que permitem que as imagens sejam perpetuamente editadas, sequenciadas, arquivadas e apresentadas. Foi evidente a relação do seu trabalho com a história e a vocação de Serralves, uma das instituições que mais tem explorado as ligações entre arte, livros e arquivos. O Museu de Serralves apresentou ainda uma exposição que assinalou o centenário de Fernando Lanhas (Porto, 1923 – 2012). Intitulada O Homem é fenómeno
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