128 Fundação de Serralves – Relatório e Contas 2023 Ao assumir um dispositivo distópico, Na cratera do vulcão procurou explorar o que Straub, partindo de Hölderlin, definiu como “comunismo utópico”, uma espécie de síntese entre marxismo e ecologia, antecipando assim uma das questões fundamentais do nosso tempo: a relação do Homem com a Natureza. As afinidades com Manoel de Oliveira estabeleceram-se através de um diálogo entre quatro filmes, nomeadamente Crónica de Anna Magdalena Bach (1967) e Amor de Perdição (1978); Acto da Primavera (1963) e Othon (1968). Esta exposição deu igualmente o mote à edição de um catálogo e a um ciclo de conferências, além da já referida retrospetiva integral, complementada por uma seleção de filmes de outros realizadores sobre a obra de Straub-Huillet. No que respeita à programação de cinema, o ciclo de cinema e conversas Um Filme Falado – O Cinema e as Outras Artes, comissariado e moderado por Anabela Mota Ribeiro, decorreu entre outubro de 2022 e maio de 2023. Com uma periodicidade mensal, este ciclo incidiu sobre a relação do cinema com outras artes, como a literatura, o teatro ou a música, tendo colocado a obra de Oliveira em diálogo com clássicos da cinematografia mundial. Cada sessão contou também com a participação de convidados de diferentes áreas e gerações, que discutiram o modo como determinada disciplina artística é tratada e relacionada com cada um dos filmes programados e, em particular, com o cinema de Oliveira. A programação regular contou ainda com o ciclo A música no cinema de Manoel de Oliveira, centrado nas diferentes utilizações da matéria musical no cinema de Manoel de Oliveira, seja enquanto apontamento irónico em O Passado e o Presente, ou como linha estruturante, no caso do filme-ópera Os Canibais, passando ainda pelas contribuições em cena de Maria João Pires ou Pedro Abrunhosa em A Divina Comédia e em La Lettre (A Carta). Dando crédito ao cineasta, que considerava a música como uma das “quatro colunas que sustentam o templo do cinema”, procurou-se, assim, evidenciar o modo como a música participa, de formas sempre inventivas, na dramaturgia dos seus filmes. No final de setembro, teve início a já referida Retrospetiva Integral de Jean-Marie Straub e Danièle Huillet, que incluiu também a produção de Straub a solo, após a morte de Danièle Huillet. Tendo sido a primeira retrospetiva integral desde que, com o desaparecimento de Jean-Marie Straub, a filmografia dos autores ficou definitivamente fechada, esta mostra proporcionou uma visão global e cronológica de uma das obras mais arrojadas e desafiantes do cinema moderno. A retrospetiva foi rematada com uma seleção de filmes sobre a obra e o trabalho de Straub e Huillet, tendo sido apresentadas curtas e longas-metragens de Harun Farocki, Peter Nestler, Manfred Blank ou Pedro Costa. Ainda no que respeita à programação de cinema, importa destacar duas sessões especiais. A 12 de setembro, a Casa do Cinema acolheu a antestreia mundial de Verdade ou Consequência?, longametragem documental de Sofia Marques com a participação de Luis Miguel Cintra, personagem principal deste retrato fílmico. A sessão decorreu no Auditório do Museu de Serralves, tendo contado com a presença da realizadora e do ator. A 11 de dezembro, a Casa do Cinema assinalou 115º aniversário de Manoel de Oliveira com a projeção de Visita ou Memórias e Confissões, filme retrospetivo e intimista que constitui uma das portas de acesso privilegiadas aos aspetos mais singulares da sua obra. No programa de itinerâncias, a exposição Manoel de Oliveira Fotógrafo passou da Filmoteca da Catalunha, onde esteve patente desde novembro de 2021, para o Centro Cultural e de Congressos das Caldas da Rainha (entre outubro e dezembro). No âmbito desta exposição foi ainda apresentado o filme O Estranho Caso de Angélica, síntese perfeita entre fotografia e cinema e uma das obras mais pessoais de Manoel de Oliveira.
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