Relatório & Contas 2023

127 Fundação de Serralves – Relatório e Contas 2023 internacional dedicada à realizadora e artista após o seu falecimento em 2019. A exposição apresentou, pela primeira vez em Portugal, Patatutopia, instalação que marca a estreia de Varda nas artes plásticas, e Une cabane de cinema: la serre du bonheur, a sua derradeira obra concebida para o espaço expositivo, bem como um excerto da série de televisão Agnès de ci de là Varda (2011), reportando-se à vinda da realizadora a Portugal, em 2009, no âmbito da exposição que, então, apresentou em Serralves, e ao seu encontro com Manoel de Oliveira. Agnès Varda: Luz e Sombra foi acompanhada pela edição de um catálogo – que, além de um conjunto de ensaios originais, incluiu a publicação de todas as fotografias, na sua maioria inéditas, feitas por Agnès Varda em Portugal, em 1956, – e uma retrospetiva alargada da sua obra. Composta por 21 filmes, esta retrospetiva permitiu não só situar o trabalho plástico de Varda no âmbito da sua produção cinematográfica como ofereceu, também, uma visão global da obra daquela que foi precursora da nouvelle vague e, como Manoel de Oliveira, um dos autores que mais radicalmente reinventou a prática e o alcance do documentário. Vindo igualmente do ano anterior, a exposição documental Aniki-Bóbó – 80 Anos, patente no foyer do Auditório da Casa do Cinema até fevereiro, assinalou, paralelamente a um ciclo de cinema com o mesmo título, as oito décadas decorridas sobre a estreia do mais popularizado dos filmes de Manoel de Oliveira, apresentando uma seleção de documentos de trabalho relacionados com o filme, provenientes do acervo do realizador. No início de março, a Casa do Cinema deu início a um ciclo de três exposições, intitulado Manoel de Oliveira e o Cinema Português, que pretende colocar em evidência o arquivo pessoal do realizador, integralmente depositado em Serralves, encarando-o como parte integrante da obra do realizador e instrumento para a abertura de novas pistas de leitura e de investigação da sua produção cinematográfica. Esta primeira exposição teve por subtítulo A Bem da Nação (1929-1969) e incidiu nos primeiros 40 anos da atividade de Manoel de Oliveira, tendo como pano de fundo o cinema português do mesmo período, nomeadamente uma cronologia desenvolvida em colaboração com a Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema. Este périplo, forçosamente lacunar e seletivo, através dos acontecimentos, figuras e filmes que marcaram cinematografia nacional durante o Estado Novo, resultou numa amostragem contra a qual a obra de Manoel de Oliveira se recorta. A abertura do arquivo (que aqui foi, pela primeira vez, exposto na sua totalidade) e o acesso aos materiais que o realizador recolheu durante décadas, procurou igualmente funcionar como uma chamada de trabalhos, ligando a academia a este universo ou corpus muito particular. A exposição, com curadoria de António Preto e João Mário Grilo, esteve patente até dezembro, tendo o trabalho de pesquisa sido desenvolvido em colaboração com uma equipa de investigadoras do CineLab – Ifilnova, Instituto de Filosofia da Universidade NOVA de Lisboa. A segunda exposição do ano, Jean-Marie Straub e Danièle Huillet: Na cratera do vulcão – primeira mostra dedicada à obra do casal de realizadores em Portugal a que se acrescenta a primeira retrospetiva integral depois do desaparecimento de Jean-Marie Straub, em 2022 – procurou sublinhar laços de afinidade entre o cinema de Straub-Huillet e a obra de Manoel de Oliveira. A insistência sobre a materialidade da imagem e do texto, o rigor na construção dos planos e a desnaturalização da representação, são alguns dos aspetos partilhados entre as obras de Straub-Huillet e de Oliveira, que traduzem, também, uma deontologia cinematográfica muito singular e fazem dessas obras um marco incontornável do cinema moderno. Na cratera do vulcão contou com a exibição da curtametragem Hommage à Vernon (1988), recentemente descoberta no Arsenal de Berlim e inédita em Portugal, constituída por takes descartados de uma cena do filme Negro Pecado. Este filme recémdescoberto partilhou o espaço com outras imagens da filmografia dos autores: Moisés e Arão (1974), Da nuvem à resistência (1978), Negro Pecado (1988), Cézanne (1989), Estes Encontros com Eles (2005) e A Morte de Empédocles (1986).

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