28 Fundação de Serralves – Relatório e Contas 2022 Destaque-se ainda a importância conferida à Coleção de Serralves, que consideramos a alma do Museu. Apresentada anualmente em grandes exposições, ela é regularmente conservada, estudada e publicada, tendo vindo a ser complementada e enriquecida com depósitos de colecionadores, num reconhecimento do papel fundamental de Serralves na disseminação nacional e internacional da arte contemporânea. Fora do Museu, a Coleção é regularmente apresentada em exposições itinerantes em todo o território nacional, permitindo a populações afastadas dos maiores centros urbanos contactarem com a produção artística atual. Sim, Serralves tem contribuído decisivamente para uma efetiva descentralização cultural! Além disso, a programação do Museu tem podido afirmar Serralves como um importante polo para pensar a arquitetura e as artes performativas do nosso tempo, e a sua relação com as chamadas artes visuais. Para isto contribuíram decisivamente a doação de arquivos incontornáveis nas duas áreas, nomeadamente do Arquiteto Álvaro Siza e do coreógrafo e performer João Fiadeiro, um dos nomes mais destacados da Nova Dança portuguesa. É um privilégio, e ao mesmo tempo uma imensa responsabilidade, poder conservá-los e exibi-los, enquanto – como verdadeiros arquivos vivos – são animados através de atividades (exposições, seminários, workshops) que os disponibilizam a todos quantos queiram aprender e trabalhar com eles. Além dos arquivos, a Biblioteca de Serralves tem à sua guarda uma das mais importantes coleções de livros de artista a nível europeu. Além da apresentação de alguns itens da Coleção de Livros e Edições de Artista de Serralves em mostras apresentadas nas galerias do Museu – mais uma prova de que este meio artístico deve ser reconhecido como obra de arte por direito próprio –, exposições dedicadas à produção gráfica de artistas contemporâneos são regularmente apresentadas no mezanino da Biblioteca. Antes de me dedicar a apresentar as exposições que marcaram o ano de 2022 em Serralves, gostaria de sublinhar a crescente indistinção dos eixos que orientam a atividade da Fundação de Serralves. A relação praticamente simbiótica entre o Museu e o Parque, por exemplo, consubstancia-se em exposições que decorrem simultaneamente nos dois espaços (o mesmo tendo já acontecido na Casa do Cinema Manoel de Oliveira), fazendo com que uma visita a Serralves constitua uma experiência em que o confronto com as práticas artísticas nunca esteja divorciado da Natureza, do cinema e das grandes questões que nos devem fazer refletir na atualidade. Em 2022, as maiores exposições individuais apresentadas em Serralves foram dedicadas a um artista nacional, Rui Chafes (Lisboa, 1966) e a dois artistas estrangeiros, Cindy Sherman (Glen Ridge, EUA, 1954) e Leonilson (Fortaleza, Brasil, 1957 – São Paulo, 1993). Este último foi um dos grandes expoentes do importante movimento da arte brasileira conhecido como Geração 80, e a mostra em Serralves foi a primeira grande retrospetiva da obra do artista brasileiro em Portugal – disponibilizando um panorama geral de toda a sua obra e reafirmando a atenção de Serralves, desde a sua abertura, à arte produzida do outro lado do Atlântico. Na exposição de Rui Chafes – que revelou mais de três décadas de atividade do artista, revisitando os momentos mais marcantes do seu percurso – destaco o facto de esta se estender do interior do edifício aos jardins exteriores do museu, constituindo um exemplo paradigmático da simbiose entre Museu e Parque a que me já me referi. Ainda relacionada com a atenção dedicada por Serralves à arte brasileira, relevamos a exposição Sementes Selvagens, organizada em torno do mais recente filme da artista Rivane Neuenschwander (Belo Horizonte, 1967), realizado em parceria com a cineasta Mariana Lacerda (Eu sou uma arara, de 2022). O filme chamou a atenção para questões políticas e ecológicas, como a destruição do ambiente e o genocídio da população indígena, testemunhando o momento de grande tensão que o Brasil então vivia. Frisando ser o museu um espaço onde se reflete sobre questões da atualidade, a exposição sublinhou ainda a relação orgânica e complementar entre os vários espaços da
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