Relatório & Contas 2022

119 Fundação de Serralves – Relatório e Contas 2022 O ano começou com a exposição O Princípio da Incerteza: Manoel de Oliveira e Agustina BessaLuís, que havia inaugurado no final do ano anterior, e na qual se explorou a complexa e profícua parceria criativa que aliou Manoel de Oliveira a Agustina Bessa-Luís ao longo de cerca de três décadas de colaboração, de que resultaram nove filmes e uma peça de teatro encenada pelo realizador, sempre em diálogo com a obra da escritora. Esta exposição, que esteve patente até ao início de junho, fez-se acompanhar por um ciclo de cinema onde foram apresentados todos os filmes resultantes da parceria Oliveira-Agustina em paralelo com outras obras maiores da história do cinema que, de algum modo, complementam ou contrariam o exercício de adaptação ou transposição literária empreendido por Manoel de Oliveira a partir dos romances, novelas, contos, monólogos e diálogos de Agustina Bessa-Luís. Assim, apresentaram-se diferentes declinações cinematográficas do “primeiro romance moderno”, Don Quijote de la Mancha, e múltiplas adaptações de Madame Bovary, com vista a contextualizar e perspetivar o trabalho meta-literário de Agustina em Vale Abraão e o modo como Oliveira intuiu essa panóplia de referências na sua versão. O mesmo na relação entre o Fausto, de Goethe, lido por Murnau, e As Terras do Risco/O Convento. Para além disso, este ciclo, genericamente intitulado Cinema e Literatura, procurou igualmente questionar os limites da adaptação cinematográfica, a partir da hipótese de uma não-adaptação ou transposição integral, apresentando um conjunto de obras que testam as fronteiras entre o livro e o guião de cinema e respetiva tradução na tela (obras de Marguerite Duras, Jean-Marie Straub e Danièle Huillet, Hollis Frampton ou David Lamelas). Entre março e maio, e com o intuito de aprofundar os processos de trabalho mobilizados nesta parceria criativa entre Manoel de Oliveira e Agustina Bessa-Luís, a Casa do Cinema organizou, em paralelo à exposição, a série de conversas A Atração dos Contrários, cocomissariada com o crítico literário e poeta Pedro Mexia. Ao longo de cinco encontros, em que participaram os cineastas João Botelho e Cláudia Varejão (que apresentaram filmes seus onde dialogam com a obra literária de Agustina e, inevitavelmente, com o olhar que Oliveira lançou sobre essa obra), o historiador Rui Ramos e a filósofa Maria Filomena Molder, examinou-se o modo como estes dois meios de expressão (a literatura e o cinema) são postos à prova quando as palavras de Agustina entram em tensão com as imagens em movimento de Oliveira. Já em outubro, integrado no ciclo “Agustina Leitora. Leituras de Agustina”, promovido pelo Instituto de Literatura Comparada Margarida Losa, a Casa do Cinema acolheu a conversa “Agustina no Cinema”, onde participaram, além do seu diretor António Preto, o professor David Pinho Barros e a realizadora Rita Azevedo Gomes. Ainda no contexto da celebração do centenário do nascimento de Agustina Bessa-Luís, a Casa do Cinema recebeu, igualmente Mónica Baldaque, para o lançamento do seu mais recente livro As Sibilas – Diálogos em Sfumato, numa sessão com a apresentação de Isabel Pires de Lima, e editou o livro Agustina Bessa-Luís, Escritos sobre Cinema, o segundo volume da Coleção Casa do Cinema, onde se reúne uma parte muito significativa do pensamento da escritora sobre o cinema, numa recolha de textos críticos, jornalísticos, ensaísticos e de excertos de romances feita por Lourença Baldaque, que assinou também o prefácio desta publicação. Igualmente iniciada em 2021, mas tendo-se prolongado até junho de 2022, a retrospetiva dedicada ao cinema de Ai Weiwei prosseguiu no Auditório da Casa do Cinema, numa colaboração com o Museu de Arte Contemporânea, a propósito da exposição Entrelaçar, que esteve patente, no Parque de Serralves, até julho de 2022. Organizada em quatro momentos, em torno de temáticas e abordagens centrais na sua obra, ao longo de 2022 a Casa do Cinema apresentou os três últimos capítulos desta mostra, dedicados, respetivamente, à perseguição política do artista na China, ao cinema como arma de denúncia política e plataforma de mudança e, por fim, a chamada “Trilogia dos Refugiados”, com a estreia nacional de Rohingya (2021).

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