Relatório & Contas 2021

23 Fundação de Serralves – Relatório e Contas 2021 Serralves de 2021 foram disso exemplos maiores os artistas Ai Weiwei e Mark Bradford, cuja relevância artística também se ancora na forma (sempre sofisticada, não panfletária) como têm vindo a incluir nos seus trabalhos questões que nos fazem meditar sobre o mundo em que vivemos (e principalmente pensar naquele em que queremos viver!). Serralves também se tem dedicado a repensar o amplo espectro de significados que uma das suas atividades essenciais (organizar e apresentar exposições) pode tomar atualmente, quando o modelo exposição é constantemente sujeito a redefinições. São disto exemplos a mostra da dupla de artistas portugueses João Maria Gusmão & Pedro Paiva – que conceberam a apresentação dos seus trabalhos de quase duas décadas como uma imensa instalação – ou a decisão de convidar um destes artistas (João Maria Gusmão) para comissariar uma exposição de Gonçalo Pena apresentada praticamente em simultâneo – um exercício que permitiu perceber as particularidades do artistacomo-comissário ao mesmo tempo que deixou pistas para avaliar como os dois trabalhos, apesar de formal e estilisticamente muito distantes, se podiam iluminar mutuamente. Esta missão de contribuir para a redefinição de modelos artísticos e dos papéis tradicionais dos seus agentes, amplia-se numa instituição como Serralves (que detém uma importante coleção dedicada à arte dos últimos 50 anos) em mostras pensadas a partir deste espólio e que devem contribuir para reescrever a história da arte ou olhar sob perspetivas inéditas para a produção de artistas, portugueses e estrangeiros, de que integramos núcleos de obras que permitem fazer apresentações individuais (ou que são representados na Coleção com obras suficientemente icónicas e impactantes para poderem ser apresentadas sozinhas). Em 2021, o Museu continuou a apostar nestas duas possibilidades, através de mostras colectivas (Modus Operandi, Mais do que um metro quadrado) e individuais (Jorge Queiroz, Pedro Tudela, Jorge Molder, Roni Horn, Dara Binbaum), além de ter prosseguido fora de portas o seu programa de itinerâncias, que leva a todo o país exposições da Coleção e que é reconhecido como um dos projetos que mais contribui para o convívio com a arte contemporânea de populações afastadas dos maiores centros urbanos. Destaque-se ainda o importante trabalho de estudo, conservação e apresentação da Coleção Miró depositada em Serralves pelo Estado Português, definitivamente residente na Casa de Serralves depois de uma recuperação do Arquiteto Álvaro Siza ter para isso criado todas as condições museológicas, com a qual organizámos uma importante exposição do artista catalão (Joan Miró: Signos e Figuração). Casa, Museu e Parque assumem-se cada vez mais como equipamentos complementares, todos ao serviço de uma única visão artística e frequentemente utilizados como palcos para diferentes abordagens à obra de determinado artista (este ano, Ai Weiwei, Christina Kubisch e O Museu como Performance são três exemplos). Tentando respeitar a cronologia, pelo menos no diz respeito às maiores exposições apresentadas no Museu, devemos começar por Terçolho (apresentada entre junho e novembro de 2021), a mais completa exposição até à data de João Maria Gusmão e Pedro Paiva, abrangendo o seu trabalho em filme, fotografia, escultura e instalação realizado ao longo de quase duas décadas. Pensada como uma grande instalação, na base da exposição esteve uma ideia caleidoscópica de exposições dentro de exposições, em que imagens em diferentes suportes se iam desdobrando ao longo das galerias e da garagem do museu. A obra de João Maria Gusmão e Pedro Paiva apresentase como um autêntico laboratório em que são testados o conhecimento empírico, a metafísica existencial e os limites da perceção do real. A dupla descreve o seu projeto global como uma espécie de “metafísica recreativa”. Barber Shop, exposição de Gonçalo Pena apresentada na Galeria Contemporânea entre junho e outubro de 2021, revelou a produção desenhística obsessiva do pintor. Absurdos, politicamente incorretos e estilisticamente polimorfos, os seus desenhos têm uma qualidade caricatural, ao mesmo

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