PLANO DE ATIVIDADES 2024

múltiplas facetas e suportes, nunca se acomodou aos modelos estabelecidos, seja a sala de cinema, o espaço museológico ou a publicação. Pelo contrário, é ao desmantelar os alicerces desses modelos institucionais que o autor – tornado ele próprio uma instituição – deixaria um legado artístico e conceptual que tanto estabelece bases para uma reflexão crítica do nosso tempo, como abre pistas para um possível futuro artístico que cabe a outros criar ou prosseguir. Sendo certo que Manoel de Oliveira, como Jean-Marie Straub e Danièle Huillet, como Jean-Luc Godard, convergem, não obstante os vários pontos de divergência, num mesmo conjunto de preocupações éticas e estéticas, o impulso de rotura que anima cada uma destas três obras terá, ainda, ressonâncias na demais programação de cinema e conversas da próxima temporada, nomeadamente nos programas anuais Estetoscópio e Fim de Semana da Animação. Seguindo as linhas orientadoras das edições anteriores, cada um destes programas refletirá diretamente sobre questões que desaguam ou que decorrem da premissa cinema e revolução, multiplicando pontos de vista e complexificando possíveis entendimentos desta questão. Além de uma programação de cinema que se prevê intensa e que contará com dois ciclos paralelos às exposições, desde logo, a apresentação da segunda parte do ciclo Manoel de Oliveira e o Cinema Português (com foco no cinema nacional produzido entre as décadas de 1970 e 1990) e a retrospetiva seletiva de Jean-Luc Godard, bem como o ciclo Modos de rever: o olhar do cinema sobre a arte, centrado em filmes sobre arte e artistas, a Casa do Cinema continuará a apostar na reflexão, produção de conhecimento e discussão de temas críticos da atualidade, dando igualmente continuidade ao processo de catalogação, tratamento arquivístico e digitalização integral do Acervo de Manoel de Oliveira. Sendo tão fundamental quanto exigente, este trabalho tem resultado em diferentes parcerias com o contexto universitário, em áreas de investigação muito distintas, e dado origem a inúmeras exposições dentro e fora de portas, bem como a diversas publicações que este ano terão continuidade através da edição do segundo volume do catálogo Manoel de Oliveira e o Cinema Português e de mais dois números da Coleção Casa do Cinema. Na sua globalidade, a programação da Casa do Cinema Manoel de Oliveira para o próximo ano está alinhada com Jean-Marie Straub, quando afirma que “fazer a revolução é também repor no lugar coisas muito antigas, mas esquecidas”, o que, noutros termos, sintetiza bem a determinação de continuar a promover um diálogo produtivo entre o estudo e dinamização do legado patrimonial que a instituição tem à sua guarda, a criação de um espaço de encontro, e de partilha, de uma comunidade de espectadores que participa ativamente na descoberta e discussão de filmes que, fazendo ou não parte do nosso imaginário, nos ajudam a imaginar todo um cinema que está por vir. PANORAMA

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